Metaverso e saúde mental: um mundo de possibilidades, mas também de dúvidas

dez. 06, 2022

Metaverso e saúde mental: um mundo de possibilidades, mas também de dúvidas

Para especialistas, ainda faltam explicações sobre possíveis implicações desse ambiente virtual imersivo, por exemplo, no aumento da ansiedade e do estresse

Gigantes da tecnologia, como o Facebook, rebatizado de Meta, têm investido alto em recursos do metaverso — Foto: Shutterstock


Desde outubro do ano passado, quando Mark Zuckerberg anunciou que o Facebook mudaria de nome, passando a se chamar Meta, e investiria em um novo e audacioso projeto rumo à virtualização das interações sociais, laborais e comerciais, uma nova palavrinha passou a aparecer recorrentemente no noticiário. Estamos falando da expressão “metaverso”, que ainda causa estranhamento. De maneira resumida, o termo designa um conjunto de tecnologias que permite sobrepor a realidade concreta com uma camada de virtualidade por meio de óculos dotados de recursos de realidade virtual e aumentada, permitindo, portanto, a imersão do usuário em ambientes que mesclam cenários físicos e digitais. 

Zuckerberg e outros milionários investidores do Vale do Silício têm apostado alto – os investimentos são da ordem de bilhões de dólares – na popularização do metaverso. A sensação é a de que, na indústria de tecnologia, iniciou-se uma corrida pela exploração desses novos e amplos horizontes de possibilidades, que vão permitir às pessoas interagir com outros usuários, assistir a filmes, fazer compras, realizar passeios ou participar de reuniões por meio de bonecos virtuais, também chamados de avatares. E a expectativa, segundo a companhia de pesquisa de mercado Gartner, é que, até 2026, um quarto da população mundial com acesso à internet passará pelo menos uma hora por dia no metaverso para trabalho, compras, educação e atividades sociais ou entretenimento. 

Contudo, o sucesso da empreitada depende de uma série de fatores, como a pulverização da tecnologia 5G, que promete uma velocidade de transmissão até 20 vezes maior que a do 4G, mas que ainda está disponível a um número restrito de territórios. Das mais de 2,5 milhões de cidades espalhadas em todo o mundo, apenas 1.600 já têm acesso ao recurso – boa parte delas na China e nos Estados Unidos. Os dados foram levantados pela Viavi Solutions, empresa que atua no fornecimento de redes e serviços de telecomunicações. Outro problema é o acesso aos óculos de realidade aumentada, que, atualmente, custam em torno de US$ 300 – valor que, para significativa parcela da população brasileira, torna o apetrecho inacessível. 

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Saúde mental 

Além das questões estruturais a serem resolvidas, o metaverso já vem sendo cobrado sobre possíveis implicações para a saúde mental. Importante lembrar que o Facebook, hoje Meta, foi alvo de um escândalo após ser acusado por uma ex-funcionária, Frances Haugen, de ter negligenciado alertas sobre o dano social criado por seus produtos. A reboque da denúncia, reforçada por uma série de documentos entregues à imprensa e às autoridades norte-americanas, a empresa e outras gigantes da tecnologia se viram pressionadas a implementar melhores práticas, garantindo ao usuário um ambiente mais saudável e sustentável. 

Mas é difícil prever se as promessas de melhorias serão cumpridas, afinal, como lembra Tatiany Melecchi, mestre em marketing pela Massey University, da Nova Zelândia, o próprio modelo de negócio dessas corporações se baseia na estimulação dos usuários a permanecer o maior tempo possível em suas plataformas.

Na avaliação dela, ainda faltam explicações sobre possíveis implicações do metaverso para o aumento da ansiedade e do estresse – problema que é apontado por especialistas como associado ao uso excessivo de telas. 

Sobre o tema, os pesquisadores Denize e Yuri Sepulveda fizeram uma série de apontamentos críticos no artigo “O dilema das redes e a modulação dos comportamentos dos usuários”, publicado no ano passado. No texto, eles anotam que “as redes sociais não controlam somente o comportamento e o tempo, mas influenciam, também e cada vez mais, o autoconceito (imagem ou ideia que o indivíduo faz de si mesmo), a autoimagem (descrição que a pessoa faz de si, da forma como ela se vê) e a autoestima (a qualidade, o valor que o indivíduo se dá em relação ao que acredita ser) das pessoas”. 

O temor do filósofo e psicopedagogo Otávio Grossi é que, em um ambiente imersivo, as questões apontadas pela dupla de estudiosos se tornem ainda mais presentes e acentuadas. Ele ainda lembra que diversos problemas que não foram solucionados nem no mundo concreto, nem nas mídias digitais que conhecemos hoje podem ser replicadas e potencializadas no metaverso. “Não está claro, por exemplo, se teremos algum tipo de mecanismo para coibir situações de bullying”, cita, acrescentando que também preocupa a forma como as relações trabalhistas e o ideário doentio de um modelo corporal podem aparecer nesses universos paralelos. 

Grossi ainda lembra que a “gamificação” da vida também pode se tornar um problema. Vale lembrar que, desde 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o vício em videogames como um transtorno mental. Segundo a entidade, o adoecimento está ligado a um padrão de comportamento frequente ou persistente tão grave que leva “a preferir os jogos a qualquer outro interesse na vida”. 


Autocuidado online 

Tanto Tatiany Melecchi quanto Otávio Grossi dão por certo que o metaverso deve se tornar cada vez mais comum nos próximos anos. “Esse processo de virtualização me parece irreversível, tanto que vem atraindo grande investimento de gigantes como o Facebook (atual Meta) e a Microsoft, além de atrair outras marcas, como a Gucci, que lançou coleção por meio de um desses universos digitais, e a Nike, que também já lançou um tênis virtual para ser comprado para o seu avatar”, cita a especialista em marketing. 

Ela cita, por outro lado, que o mercado de bem-estar também está se inserindo no metaverso. “Hoje, já temos a possibilidade de práticas de mindfulness nesses ambientes”, comenta, lembrando que as soluções tecnológicas, apesar de todos os problemas já apontados, também podem contribuir para o acesso a tratamentos psicológicos. 

No mesmo sentido, Grossi reconhece que, com a pandemia, tecnologias de videochamada se mostraram eficientes para o acompanhamento de pacientes em sessões psicoterápicas. “É claro que é possível identificar benefícios, mas seria inocente acreditar que eles se sobrepõem aos problemas implicados por essa lógica de sobreposição do real pelo virtual”, avalia.


Material original em :
https://www.otempo.com.br/interessa/metaverso-e-saude-mental-um-mundo-de-possibilidades-mas-tambem-de-duvidas-1.2613748


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